
rês razões pelas quais filmes baseados em games não funcionam
Três razões pelas quais filmes baseados em games não funcionam
Adaptações cinematográficas de jogos populares são tão inevitáveis quanto jogos adaptados de filmes, e muitas vezes, tão ruins quanto.
Metal Gear Solid 4
Na semana passada, ficamos sabendo que a Konami vai mesmo levar Metal Gear Solid para as telonas. O filme parece estar em um processo bem inicial de planejamento, então é cedo para dizer se ele vai tomar forma ou não. Uma coisa é certa, porém: ele vai dar trabalho (e não estamos falando só da escolha de atores).
Adaptações cinematográficas de jogos em geral já enfrentam grandes desafios, para começo de conversa. Se você somar aí o folclore e as lendas da série Metal Gear, a tarefa fica mais difícil ainda. Metal Gear Solid 4, por exemplo, vem com uma enciclopédia digital de personagens, conexões e histórias que continuam não fazendo muito sentido mesmo depois de horas de leitura cuidadosa. A série já é famosa por conter horas de cutscenes no próprio jogo – basicamente, você tem vários filmes inseridos entre os trechos interativos do jogo.
O maior problema, em adaptações de games para filmes, é que os criadores tendem a pensar literalmente. E existem três enormes obstáculos diretos, em vez de espirituais, ao adaptar um jogo para Hollywood.
Duração
Mesmo um jogo curto, que dure entre 8-10 horas, é 4-5 vezes o tempo médio de um filme. Jogos e séries de jogos tendem a ter suas grandes histórias contadas ao longo de muitas e muitas horas. Mesmo o jogador mais rápido gastaria cerca de 60 horas para terminar a série Mass Effect, então como você pode encaixar tanta história em duas horas de filme?
Participação
O modo como o jogador se relaciona com o personagem completa as hipóteses sobre o mundo e a história do jogo. Quando nós, jogadores, fazemos certos tipos de escolhas para nossos protagonistas, acabamos transformando-os na soma dessas decisões. Assim, quando eu jogo The Walking Dead, Lee é um bom homem que se importa com a Clementine, e os segredos de seu passado são irrelevantes para seu futuro. Mas outra pessoa pode jogar de maneira que Lee seja um babaca que não vê a hora de se livrar dessa criança estúpida, e que fará qualquer coisa para conseguir o que quer. Com um filme não tem conversa: um personagem principal na tela vai se comportar da maneira que o roteirista e o diretor disserem que deve ser, o que pode ser dissonante para a história que o jogador tinha como sua.
Propósito
Alguns jogos dependem de sua história. Outros são sobre temas mais amplos, como traição, poder, ou ganância. Mas muitos jogos são, de uma maneira profunda, sobre suas mecânicas. É verdade que os minutos na tela não podem ser gastos com pulos, ou armas, ou exploração do mapa, ou subir níveis – mas sem esses laços para engajar o jogador, muitos jogos perdem sua identidade, e se tornam apenas outra história entediante e mal contada.
Uma esperança
Mas nem tudo está perdido. Assim como um jogo pode ter mais sucesso complementando, e não competindo com, sua origem cinematográfica , um filme também pode escolher explorar um aspecto do mundo do jogo de uma maneira nova.
É impossível encaixar em um filme, de maneira coerente, 300 milhões de horas da história da FOXHOUND, e tudo aquilo que veio antes e depois. (Não caberia nem numa trilogia.) Mas os temas mais amplos – traição, espionagem, mentiras, amor, dever, honra, ciúme – cabem sem problema.
A série Metal Gear Solid é abrangente, e fala desde livre-arbítrio até engenharia genética, passando por desarmamento nuclear e a força da alma humana.
Um filme não pode fazer com que a bizarra árvore familiar de Snake faça sentido ou pareça significativa em apenas duas horas. Mas pode contar uma história de guerra, e de prováveis inimigos procurando pela verdade. Vai ser impossível explicar o destino do braço direito do Liquid Snake, mas é possível contar a história de dois irmãos lutando por seus ideais.
Filmes adaptados de jogos, assim como filmes adaptados de livros, contam as melhores histórias quando eles tentam ser bons filmes, e não boas adaptações. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban foi bem sucedido como filme de um modo que Harry Potter e a Pedra Filosofal não foi, porque o primeiro foi contado em uma linguagem de cinema, e o segundo foi muito fiel em recontar a história que muitos espectadores já tinham lido.
Para um filme de Metal Gear Solid funcionar, a equipe de criação terá de identificar a alma do que faz a série funcionar, e criar uma nova história bem contada a partir disso. Recontar a história de Shadow Moses – ou qualquer outra missão do jogo – não vai dar certo. Mas com o universo tão rico e complicado do senhor Kojima, com certeza temos alguma boa história que fique bem na tela do cinema.